Colaboração da publicitária Carolina Linhares

O impacto da greve dos caminhoneiros, que travou a economia do Brasil em maio deste ano, trouxe novamente à pauta a dependência da movimentação de cargas via modal rodoviário. Durante 11 dias de paralisação, o rombo foi de R$ 15 bilhões, de acordo com o Ministério da Fazenda. A situação expôs a precariedade da matriz de transportes e a urgência de expandir a malha ferroviária nacional.

Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 60% das cargas do País circulam por veículos rodoviários, sendo apenas 20% por ferrovia. O modal rodoviário detém de mais de 90% da movimentação de passageiros.

O resultado disso foi uma redução em 46,4% na produção industrial durante a paralisação dos caminhoneiros. Heitor Studart, presidente da Câmara Temática de Logística da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), acredita que a greve não teria gerado impactos se a ferrovia Transnordestina estivesse operando.

“É fundamental ampliar a malha ferroviária e melhorar a rodoviária, que está muito precária”, observa. Ele destaca que a ferrovia permitiria maior integração entre os modais, impulsionando em 30% a competitividade na indústria brasileira.

Marcus Quintella, especialista em transportes da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que não há uma ferrovia para atender à demanda da indústria nacional. Conforme ele, o limite adequado para o transporte de produtos, bens manufaturados, por rodovias é de 600 km. No Brasil, as mercadorias são carregadas por mais de 3 mil km.

“Transportar produto no Brasil é caro e demorado. Até o próprio escoamento da safra agrícola gera muito custo. A gente perde competitividade internacional por conta dessa realidade, porque temos um transporte basicamente por rodovia. Tudo isso poderia estar sendo feito por ferrovias e hidrovias de uma maneira muito mais efetiva do que é realizado hoje. O impacto dessa incoerência no contexto socioeconômico é muito grande”, afirma.

Projeção do Plano Transporte e Logística 2018, da CNT, revela que o Ceará precisa de R$ 28,9 bilhões de investimentos em estradas, portos, aeroportos e ferrovias, totalizando 100 projetos necessários para o desenvolvimento da infraestrutura.

Fernanda Rezende, coordenadora de Desenvolvimento da CNT, reitera. “A gente percebe que a matriz de transportes precisa de mais investimento para expandir a malha, tanto rodoviária, como também nas outras modalidades, incluindo principalmente ferrovias”, avalia. Ela lembra, ainda, da necessidade de integração entre os modais, algo que precisa ser priorizado no País, sob pena de a economia continuar sendo prejudicada pelo chamado “custo Brasil”.

Iniciada em 2006, a Transnordestina ligará os portos do Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. Após diversos entraves financeiros, a obra foi paralisada e pode ser concluída somente em 2026. A previsão é que a obra do trecho que passa pelo Ceará termine em 2022, segundo estimativa do novo projeto de execução e orçamentário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), controladora da ferrovia. Ao todo, foram destinados R$ 6,4 bilhões desde o início da construção da Transnordestina. A retomada da obra vai demandar ainda mais R$ 6,7 bilhões. Segundo a CNT, para modernizar a matriz de transporte, Ceará precisa dos seguintes investimentos: R$ 572 milhões em aeroportos, R$ 3,7 em portos, R$ 10 bilhões em ferrovias e R$ 15 bilhões em rodovias.

Fonte: Jornal O Povo