Por Fernando Abelha
Dois de janeiro, primeiro dia útil do ano de 2018, que se inicia. Com ele, alimentamos novas esperanças de que os ferroviários e as ferrovias tenham um lugar ao sol. Os ferroviários somente desejam ver respeitados os seus direitos e as ferrovias, por sua vez, se voz tivessem, pediriam para sair das mãos de seus algozes e que passassem a ser operacionalizadas como o Brasil merece e o povo espera, isto é, livres de concessões viciadas e oportunistas que agora pretendem obter mais 40 anos de um domínio, muito mais do seu interesse comercial do que operacional, em favorecimento do País, sem pensar nos interesses nacionais e sem apresentar qualquer contrapartida ao desenvolvimento e modernização do modal ferroviário, que o País merece e aguarda.
Assim, se as ferrovias tivessem vez e voz, não obstante a tudo isso que ameaça seu pálido futuro desenvolvimentista e nacionalista, talvez ainda pudessem ser ouvidos seus gemidos rogando para que não mais se dilatassem o que já fora devastado, tal como a calamitosa destruição de 20 mil quilômetros de linhas por todo território nacional, equivalente à perda de nada mais e nada menos, do que a marca de mil quilômetros por ano, de modo que estes 20 mil quilômetros de trechos ferroviários, com todo o seu acervo e histórico de integração nacional, ficaram renegados ao abandono, sucateados, saqueados, invadidos e apodrecidos, constituindo assim, abominável crime de lesa-pátria praticado pelas concessionárias que usurparam as linhas pertencentes da extinta RFFSA, protegidas que são até os dias atuais pelos governantes que nos últimos 20 anos, estiveram e estão à frente do País.
Segundo engenheiros oriundos da RFFSA, esse crime do abandono de quilômetros de linhas, equipamentos e instalações, levou ao desperdício mais de R$ 100 bilhões se considerado o material rodante constituído por milhares de locomotivas e vagões, trilhos, maquinarias, estações, depósitos, oficinas, glebas de terras hoje invadidas e muito mais, que sob a gestão ferroviária da então RFFSA, disciplinadamente organizada, atenderiam às demandas ferroviárias de cargas e passageiros de forma mais racional. Agora, no decorrer desses sofridos 20 anos, o que nos restou?
É importante lembrar que nas últimas décadas do século passado as ferrovias prestavam importantes serviços à nação brasileira, com o transporte de carga geral e de passageiros, sem abandonar as composições unitárias como as de minério, produtos acabados de siderurgia, derivados de petróleo e da cana de açúcar, cimento e grãos destinados ao consumo interno e às exportações.
O triângulo Rio, São Paulo e Belo Horizonte, juntamente com o Tronco Sul, proporcionavam arrecadação que, também, cobria plenamente ao custeio dos demais trechos deficitários. O governo, quando investia, voltava-se, tão somente, à infraestrutura ferroviária, como ainda permanece fazendo em favorecimento das concessionárias. Assim, o social permanecia nas metas da RFFSA e quiçá nas dos governantes, ao oferecer serviços ferroviários aos pequenos produtores e aos brasileiros menos favorecidos, que encontravam nos trens de cargas e de passageiros, embora lentos, um meio ideal de atendimento às suas necessidades e objetivos. Hoje, o povo brasileiro e os pequenos produtores agrários e industriais, somente dependem do transporte rodoviário ou aeroviário. Por sua vez, os caminhões com toneladas acima do permitido, danificam as rodovias e provocam, continuadamente, por todo território nacional, acidentes que ceifam vidas de milhares de brasileiros todos os anos, o que no fundo, nada mais é do que crime assombrador praticado pelo descaso dos governantes, além do encarecimento dos produtos de consumo interno, em face do alto valor de suas tarifas. Esperamos que se pronunciem o Ministério dos Transportes com seus DENITs e ANTTs.
Não somos contrários à modernização, fruto de gestão política e técnica, mas sim ao desleixo, corrupção e ganância. É o que vem ocorrendo com as concessões das nossas históricas, saudosas e operantes ferrovias pelo Brasil afora. Ressalte-se, ainda, as novas construções como a Norte Sul, Transnordestina e outras, que pararam no meio do caminho e absorveram outros milhões de reais, até agora destinados ao lixo.
Pergunta-se: quem responderá por tão odioso crime contra o erário público? Ninguém saberá, enquanto o silêncio predominar…
Confiamos que 2018, ano de eleições federais e estaduais, nós brasileiros sejamos iluminados para que saibamos escolher novos governantes, livres da corrupção e desmandos, mas, dotados do discernimento e compromisso que a Pátria merece. Esse é o grande dom que a democracia nos proporciona, a de nos livrar dos maus políticos e administratodores da coisa pública incompetentes. Mudemos, então, este cenário. É o que o modal ferroviário espera, se soubermos sair vivos do relento e do limbo, que juntamente com os 20 mil quilômetros de trechos ferroviários, material rodante, equipamentos e estações, fomos jogados e abandonados, ainda, vimos encarcerados nossos direitos profissionais e previdenciários.
Por tudo isso, e com a esperança de novos governantes e políticos honestos, não vemos outra forma de solução, que não o banimento da operação ferroviária das atuais concessionárias, para que outras surjam, condição única de vermos, realmente, o Brasil nos Trilhos como, continuadamente, alardeia o presidente da República, sem, contudo, ter conseguido até hoje fazer algo sustentável pelos ferroviários e ferrovias.
Começou bem Professor Abelha. 2018 que nos espere.
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Celso Paulo
Prezado amigo
Obrigado
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Parabéns João, pela crônica bem alicerçada,realmente fica muito difícil entender, como governantes,cometem tamanho crime contra a nação, e nenhuma punição lhes são impostas.Na mesma direção, no mesmo grau de culpabilidade e conivência, está o nosso poder legislativo, que durante todo esse tempo, não tomou quaisquer atitudes, para dar um basta a essa bandalheira nacional.
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João Batista
Em determinados momentos tenho a impressão que fato ao vento. São mais de 35 mil acessos mensais. Acredito que alguns deles sejam das áreas de comunicação dos órgãos governamentais. Mas, permanecem mudos…
Vale encaminhar cópia das matérias do interesse da nossa classe e das ferrovias, aos parlamentares com os quais tenhamos conhecimento. Assim tenho feito.
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Nossos luminares sempre acham que podem solucionar os problemas com ações diferentes do que outros países fizeram. Assim foi com o sistema ferroviário brasileiro. sim tínhamos um sistema ferroviário, mas os luminares acharam que poderiam acabar com ele e substituir por caminhões. Mais uma idiotice, das tantas cometidas, e continuamos do mesmo jeito como pais não mais do futuro mas do passado.
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Amauri
É isto aí…
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Elementar como escreveria Conan Doyle para Sherlock Holmes dizer. Caminhão nem sempre pesa. Quando pesa é acima da carga por eixo permitida para as estradas de rodagem. Os políticos tratam muito bem os donos de transportadoras. Vide Cabral com o dono dos ônibus.
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Jorge Luiz
È de fato elementar.
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Parabéns Fernando. Foi um crime abandonar o transporte ferroviário, em especial, de passageiros que tem apenas a Estrada de Ferro Vitória Minas e Carajás. Lembro-me quando criança da Paulista que ia de Bauru a São Paulo em um trem elétrico rápido de geração recente, muito bem administrado e muito confortável, na década de 60 do século passado. Estações pichadas e abandonadas no estado do Rio, trens da carga da MRS em sua maior parte de minério que vejo pela Via Dutra. Quem sabe os políticos a serem eleitos em 2018 acordem e vejam a importância desse transporte como ocorre na Europa de passageiros e EUA de cargas. Passei a ser apreciador do Ferromodelismo pela revolta desse abandono ferroviário.
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José Lusvarghi
O seu comentário será publicado na próxima terça feira com destaque.
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