Por Fernando Abelha
Não é que, após alguns pares de anos sem qualquer notícia, fui surpreendido por mensagem de zap do engenheiro Aramis Lussac com o qual, por mais de década, trabalhamos na Divisão Especial Subúrbios do Grande Rio, sob a direção do intransigente, mas competente engenheiro/coronel Carlos Aloisio Weber. Da Divisão Especial resultava o transporte de massas dos subúrbios do Rio de Janeiro, da então Estrada de Ferro Central do Brasil.
Ele, Aramis Lussac, no Departamento de Transportes. Eu, na Comunicação Social e Assessoria de Imprensa. Campos distintos, mas que afluíam nos momentos críticos. Assim ocorria nas interrupções do tráfego em horários de rush, o que motivavam orientações aos passageiros, através dos meios internos de comunicações e, principalmente, pelas emissoras de rádio, ao alertar a população que o movimento ferroviário suburbano se encontrava com atrasos.
Na época eram transportados em dias úteis, cerca de um milhão de passageiros, nos cinco subsistemas da Divisão Especial. Hoje, 50 anos depois não chegam a 600 mil.
Não parava por aí: Os momentos mais críticos eram nos acidentes ferroviários quando, pessoalmente, nos deslocávamos ao local e juntávamos forças, também com a participação dos Departamentos de Assistência ao Ferroviário e Jurídico, no socorro às possíveis vítimas, sempre apoiados nos serviços públicos da Defesa Civil, enquanto grupos de companheiros ferroviários agiam na desobstrução do tráfego, com a liberação da via permanente.
Também, como sempre acontece, atuávamos no acolhimento à imprensa, insaciável em obter notícias, com as repetidas indagações: que? Quando? Quem? Como? Onde? e Por quê?
Procurávamos responder de forma a minimizar o prejuízo à imagem da Empresa, e impedir o sensacionalismo descabido.
Nos idos do início da década de 70 do século passado, em dia de semana, nas primeiras horas da tarde, quando o grande deslocamento de passageiros ainda não se agrupava, uma composição de subúrbios, das mais antigas, com 40 anos de circulação, alcunhada carinhosamente pelos passageiros como Marta Rocha, em homenagem à famosa miss Brasil, abalroou à traseira de um trem de serviços, na Estação de Del Castilho. O primeiro carro da composição de passageiros engavetou – se com o vagão plataforma da composição que se encontrava estacionada em manutenção ao sinal luminoso de tráfego ferroviário para mudança de via.
Com o violento abalroamento o maquinista do trem de passageiros ficou preso às ferragens da cabina, gravemente ferido. Os bombeiros tentavam serrar as latoarias retorcidas após o choque, para resgatá-lo. O atrito da serra elétrica com a ferragem acarretava grandes quantidades de fagulhas, o que provocava risco de queimaduras no acidentado. A partir deste momento, o espírito de bravura do ferroviário se fez presente. Aramis, engenheiro do tráfego que respondia pela empresa no local, interrompeu a ação dos bombeiros, embrenhou-se por entre a lataria retorcida, arrastando-se sobre as britas da via, até chegar ao lado do vitimado e, com as mãos empunhando ferramenta apropriada desviou os fragmentos, abriu espaço e, gradativamente, liberou os bombeiros para retirada do maquinista do meio dos destroços, o que ocorreu sob aplausos.
Aramis, certamente, obteve o reconhecimento pela Empresa em sua fé de ofício, com merecida anotação de ato de louvor pelo desprendimento, quando colocou em risco a própria vida para salvar a do seu ainda desconhecido companheiro ferroviário. Assim se espera…
O maquinista recuperou-se totalmente do traumatismo. Voltou à condução das composições suburbanas.
Que linda memória, trazida pelo meu bom pai, sobre meu primeiro chefe, Aramis, quando iniciando minha vida profissional fui trabalhar na área de estatística do seu Departamento de Transportes, ainda na RFFSA.
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Luis Henrique
Após a publicação deste assunto no blog recebi telefonema do Aramis que disse terem sido muitos os atores que atuaram neste episódio. Agradeceu a publicação e dividiu a homenagem pelos demais companheiros anônimos, que participaram das ações de salvamento o maquinista.
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É Professor, são muitas as passagens que ficaram registradas em nossa Memória, depois de tantos anos dedicados a RFFSA. Realmente o Aramis ,excelente Profissional e Pessoa, que tive o prazer de conviver durante anos. Grande relato.
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