Uma classe de trabalhadores, os ferroviários, uma das mais importantes no concerto das demais, para o desenvolvimento do País, até a década de 90, portanto, antes de ter sido iniciado o desmonte da falecida Rede Ferroviária Federal S.A.-RFFSA, “davam carta e jogavam de mão”, pois, quando das discussões dos Acordos e Dissídios, a classe pleiteava reajustes salariais justos e os obtinha, sob pena de ser desencadeada greve nacional, comandada pelos sindicatos da categoria e, assim, o parto era menos difícil, para nascer a criança, o aumento.

 As autoridades “encostavam as ancas nas retrancas”, para evitar a paralisação dos trens e os consequentes prejuízos para a empresa e para o País.

Hoje os partos são mais difíceis e vêm desde décadas, a partir da concessão das Malhas (Superintendências Regionais), pelo desmantelamento da classe dos trabalhadores ferroviários, que fizeram o trem “andar” por mais de um século e meio, conduzindo composições, transportando milhões de toneladas da riqueza nacional pelos quatro cantos deste imenso Brasil.

Hoje a classe perdeu a sua força para reivindicar reajustes maiores, porque tem apenas cerca de 400 empregados ativos. De inativos são, aproximadamente, 64 mil aposentados, que, através da Federação Nacional de Trabalhadores Ferroviários-FNTF e de um punhado de Sindicatos, assessorados por técnicos integrantes das Associações de classe, buscam, de pires (pratos) na mão, os índices inflacionários, mas não conseguem nada acima de 5 ou 6,4%, porque o parto para chegar acima desses índices, é dificílimo e passa a mão no toco; migalhas.

Prova disso tudo é a decisão das autoridades que homologaram os Acordos que transformaram em Dissídios, relativamente o reajuste da data-base, maio (2015/2016), somente agora no final  deste mês de junho, concedendo a migalha de 5%.

Concomitantemente, no Acordo/Dissídio maio (2016/2017), ficou estabelecido o índice de 6,4%, e já temos um mês de atraso.

Relativamente ao Dissídio 2015/2016, a classe tem mais de 12 meses atrasados, e a VALEC e o Ministério do Planejamento têm  que acelerar a quitação dos atrasados, o quanto antes, não se justificando a inadimplência por mais meses.

O que causa espécie aos Sindicatos e a FNTF, pelo mínimo concedido, é o que está consignado no orçamento para 2017, uma verba aprovada de, aproximadamente, 800 milhões de reais, para os aposentados e pensionistas e mais 5 milhões de reais para 380 empregados ativos da VALEC, não se justificando  reajustes tão modestos, frise-se.

Em verdade, em verdade, não há, praticamente, nada o que se comemorar. Registre-se que o índice inflacionário (IPC) está em torno de 8,17%, logo, os ferroviários teriam que ter, pelo menos, essa correção, destacando-se que essa “merreca”, a cada Acordo ou Dissídio Coletivo, vem desde 1998.

Os reajustes concedidos não retratam o que foi e é a classe dos ferroviários, que sofre com o descaso das autoridades, principalmente, daquelas que não entendem nada vezes nada dos direitos deles, não reconhecendo, por maldade, covardia ou ignorância, o que reza nas Leis números 8186/91 e 10.478/02, e, no Ministério do Planejamento, os gestores dão de ombros para a Complementação Salarial dos ferroviários que se aposentam. Ainda têm o absurdo de publicar no DOU os atos dos desligamentos, quando todos são celetistas, isto não cabe.

Essa “aberratio legis” dos “expert” do Planejamento, eu não engulo de forma alguma. Registre-se que, há alguns anos, o Ministério da Educação cogitou de criar, nas Faculdades, a cadeira do Direito Trabalhista Ferroviário dada a complexidade da hermenêutica nessa área.

Como se vê, decorre daí que não podem ocupar cargos no Planejamento pessoas que não têm nem o cacoete de ferroviário, portanto, estão fora do intrincado contexto do setor de transporte ferroviário. E estamos conversados.

Advogado Genésio Pereira dos Santos

Esta crônica nos foi encaminhada no mês de julho. Por falta de oportunidade deixamos de públicá-la  na ocasião. No entanto, em face do descalabro que nos atinge quanto a nossa revisão salarial ela permanece oportuna. Fernando João Abelha.