Por Fernando Abelha

Em recente reunião com os ferroviários Raimundo Neves de Araújo e Odevar Rodrigues dos Santos, diretores da Associação Mútua Auxiliadora dos Empregados da Estrada Ferro Leopoldina, na busca de informações para alimentar este blog, dedicado aos anseios dos ferroviários, o presidente da Mútua, Raimundo Neves, defendeu a necessidade de voltarmos ao passado para criar um novo Plano de UJn ião Nacional dos Trabalhadores Ferroviários envolvendo as entidades de classe de ferroviários por todo o território nacional, no sentido de unificar a VOZ da classe ferroviária , em defesa dos nossos legítimos direitos.

Nada mais oportuno e necessário neste momento do que a criação de um plano de unidade nacional, quando estamos sendo massacrados pelos poderes constituídos, ao atropelar os nossos direitos conquistados no decorrer do século passado.  O repúdio à esta perseguição aos ferroviários, planejada e iniciada no último governo federal do PSDB, consumada pelo PT a partir de 2003, e mantida pelo atual governo provisório do PMDB, demonstra que nestes 14 anos de falsas lideranças, desmandos, saques ao erário público e aniquilação de estatais como a RFFSA, Petrobrás e Vale do Rio Doce, entre outras, esta última privatizada em favorecimento dos interesses de grupos econômicos internacionais.

Com a liquidação da RFFSA, entregue à iniciativa privada, através dos enganosos contratos de concessões, praticou-se o assombroso crime de lesa a pátria em nosso País. Dos 30 mil quilômetros de linhas transferidos aos algozes que obtiveram as concessões das ferrovias, em plenas condições operacionais, restam, apenas, menos de 16 mil em operação, para transportar as cargas dos grupos que açambarcaram o sistema ferroviário em todo território nacional, aos olhos indiferentes dos nossos governantes.

Daí, importantes segmentos como o triângulo econômico Rio x São Paulo x Belo Horizonte, os ramais ferroviários Rio – Campos, e Rio – São Paulo, este paralelo a rodovia presidente Dutra; inúmeros outros traçados no Tronco Sul e por todo o Nordeste e Centro Oeste, estão inoperantes, com suas faixas invadidas e saqueadas, sem que as autoridades do Ministério dos Transportes descruzem os braços para trabalhar em favor do povo brasileiro. Estes desmandos, já apurados e alguns deles tornados públicos pelo Ministério Público Federal, necessitam ser levados a cabo com exemplar punição dos responsáveis. As linhas legadas ao abandono deixaram de transportar a carga geral perdendo-se, assim, o poder de moderação nos valores dos fretes, na competitividade com o transporte rodoviário, contribuindo, assim, para inflação dos alimentos. O social ficou em segundo plano, com a renúncia ao transporte de passageiros, o que é pior, nas regiões mais empobrecidas do País, que hoje ou voltam a usar o cavalo ou se submetem às exorbitantes tarifas impostas pelo poder de empresarial rodoviário, enquanto o Ministério dos Transportes, através de seus órgãos afins, assiste a tudo de braços cruzados e se agem em favor do povo e na proteção do patrimônio da Nação, ninguém sabe ninguém vê.

Isto é uma vergonha.

Você, prezado leitor poderá arguir: O que tudo narrado tem a ver com a necessidade de um Plano de Unidade Nacional dos Trabaldores Ferroviários? É de fácil entendimento. Senão, vejamos: covardemente, o poder público, entende que os ferroviários da extinta RFFSA são, hoje, uma classe em extinção. Dos 90 mil existentes em atividade operacional há cerca de 20 anos, estão em exercício, jogados na VALEC, apenas 380 profissionais. Os restantes ainda vivos, cerca de 60 mil entre aposentados e pensionistas, têm idade acima dos 70 anos, na sua grande maioria. Por sua vez, a média de óbitos anuais de aposentados ferroviários e pensionistas, está em torno de duas mil vidas. Assim, não são necessários novos argumentos para concluirmos que nas próximas primeiras décadas deste século, constaremos, apenas, dos registros históricos que marcaram a nossa presença pelo Planeta Terra.

É oportuno lembrar às autoridades constituídas no Poder Executivo, desde o Presidente da República ao diretor da VALEC-Engenharia que, esta classe, hoje desprezada e perversamente abandonada, liderou, em meados do século passado, importantes movimentos pela democracia, portanto, em passado recente, através do chamado Pacto de Unidade e Ação, irmanada com marítimos e portuários ( classes também em  extinção após a privatização dos portos e aniquilamento da cabotagem) e hoje, ingratamente, estão massacradas pelos últimos governantes do PSDB introdutor do modelo político e econômico neo liberal e pelo PT, carrasco desta filosofia nada social. Agora,na gestão do PMDB, até os míseros recursos para pagar os reajustes, após  dois anos de congelamento dos salários, mesmo mediados pela Justiça do Trabalho.

Ainda mais: é bom lembrar que os ferroviários desenvolveram importantes ações pela Legalidade, contribuindo, então, para as posses de Juscelino Kubitschek e de João Goulart, brasileiros legalmente eleitos pelo povo, para presidentes da República e contestados pelos militares e, ainda, contra os desmandos de Jânio Quadros, além de outros movimentos legalistas que culminaram em prisões e torturas de líderes ferroviários, no decorrer do movimento militar de 1964.

Por sua vez, os governantes brasileiros têm memória curta. Os políticos que se elegeram por todo o Brasil com nossos votos, hoje passam ao largo. Eles já perceberam que, em face da nossa idade, e o alto índice de mortalidade estamos, de fato, em extinção e assim, desapearam do trem de ferro, em total descaso com aqueles que colaboraram para que estejam hoje usufruindo das regalias do Planalto, com o dinheiro do povo.

Isto é a nossa triste realidade…

Pedimos ajuda aos nossos leitores que, na medida do possível, façam chegar o blog ferroviavezevoz.com ao Presidente da República e demais recém autoridades constituídas após o afastamento da presidente Dilma Rousseff. É bom que eles saibam dos nossos lamentos e desabafos, em protesto à perseguição a que somos submetidos e ao aniquilamento das ferrovias.