
Folha de S. Paulo – Os alemães podem viajar pelo país por apenas 9 euros (R$ 46) por mês desde esta quarta-feira (1º), por três meses, sob um pacote de medidas governamentais destinadas a amortecer os efeitos da inflação galopante e do aumento de preços dos combustíveis na maior economia da Europa.
As medidas incluem um corte nos impostos sobre os combustíveis, com efeito imediato de baixar o preço da gasolina e do diesel nos postos para bem menos de 2 euros (R$ 10,24) o litro.
A inflação na Alemanha chegou a 7,9% em maio, enquanto a guerra da Rússia contra a Ucrânia eleva os preços da energia, interrompe as cadeias de suprimentos e desorganiza as exportações agrícolas. O governo sofre pressão crescente para ajudar os consumidores.
A passagem por 9 euros pretende oferecer alívio e convencer as pessoas a trocar os carros pelos transportes públicos –um objetivo fundamental para os Verdes, um dos três partidos do governo de coalizão social-democrata da Alemanha. Berlim prometeu aos 16 estados alemães 2,5 bilhões de euros (R$ 12,8 bilhões) para compensá-los pelos custos extras associados à passagem mais barata.
O bilhete, que é válido para todos os transportes públicos, mas não para viagens de longa distância em ônibus e trens intermunicipais, já provou ser um grande sucesso.
A VDV estima que cerca de 30 milhões de pessoas comprarão a passagem de 9 euros em cada um dos três meses de vigência da oferta.
Alguns especialistas e grupos de consumidores temiam que isso levasse à superlotação de ônibus e trens, especialmente em rotas populares entre usuários de fim de semana. Mas, até agora, há pouca evidência disso.
“Os trens não estavam cheios demais, mas hoje foi um dia normal de trabalho”, disse um porta-voz da Deutsche Bahn à agência DPA.
A Áustria adotou a “passagem climática” no ano passado, que permite que seus cidadãos usem o transporte público nacional pelo equivalente a apenas 3 euros (R$ 15,36) por dia. Cidades da França, incluindo Niort, Dunquerque e Montpellier, também reduziram as tarifas.
Lisboa anunciou planos para oferecer transporte gratuito a alguns moradores, como idosos e estudantes. E Luxemburgo tornou todos os transportes públicos gratuitos em 2020.
Embora o bilhete alemão de 9 euros tenha sido amplamente elogiado por grupos de consumidores, ele tem seus críticos. Lukas Ilffländer, da associação alemã de passageiros Pro Bahn, disse estar preocupado com a possibilidade de as pessoas serem desencorajadas por trens superlotados e voltarem a dirigir carros.
“O bilhete de 9 euros mostrará que a infraestrutura atual não é adequada para fazer tal oferta em longo prazo”, disse ele à ZDF TV.
Especialistas esperam que o esquema forneça informações úteis para futuras decisões de planejamento.
“Nunca tivemos um experimento em grande escala em transporte público antes”, disse Philipp Kosok, do grupo de estudos Agora Verkehrswende, à ZDF. “Os pesquisadores de mobilidade estão realmente ansiosos pelos dados.”