Do jornalista Luiz Carlos Vaz:

“Meu fraternal amigo e colega Abelha. Segue o artigo de minha autoria (publicado recentemente no Correio do Povo de Porto Alegre) em que procurei alertar os postalistas sobre como pode ficar sua situação diante da intenção do Governo de privatizar os Correios. Usei, para tanto, o nosso exemplo — dos ferroviários — que foram abandonados à própria sorte. Um grande abraço”.

Aos Ferroviários e postalistas

Por Luiz Carlos Vaz

Como uma cansativa reprise, depois de vivenciar a entrega da malha ferroviária federal aos amigos do rei, assisto agora aos preparativos para a desestatização dos Correios. Não adianta, neste país tudo que vai bem na administração pública é fadado a ser engolido pela ganância desenfreada.

A Rede Ferroviária Federal sempre foi uma empresa bem administrada, moderna, e que aos poucos ia cumprindo galhardamente com a sua função, tanto social através dos trens de passageiros, quanto de instrumento de que o governo dispunha para regular os preços dos fretes. Pois bem, foi só ela começar a crescer para que olhos do mal também crescessem. E como cresceram… A boca pequena, começaram a falar em desestatização lá pelo governo Sarney; depois veio Collor que deu força à ideia. Mas foi Fernando Henrique quem deu o tiro de misericórdia – o que depois foi sacramentado por Lula da Silva.

Decretou a desestatização da RFFSA mas tudo foi feito atabalhoadamente, sem critérios, com obrigações aos concessionários que não eram respeitadas. Basta ver que aos vencedores do leilão e seus sucessores ficava o encargo de zelar pelo patrimônio da União, representado por material rodante – locomotivas, vagões, carros de passageiros – por material de via permanente (trilhos, dormentes) e bens imóveis, como prédios de estações, oficinas e pátios de manobras.

Pois passados mais de 20 anos da entrega da ferrovia, quase não resta pedra sobre pedra. O abandono foi total pois aos que hoje operam as estradas de ferro brasileiras interessa tão somente o filé. Os ferroviários, que outrora forjaram o progresso desta terra, foram jogados vilmente numa obscura empresa chamada Valec onde penam até hoje sem reajustes salariais só porque assim querem os seus cruéis e descompromissados dirigentes.

A mesma coisa aconteceu e acontece com os Correios. Tal como na Rede, forçaram a empresa a baixar a qualidade dos excelentes serviços que prestava e hoje uma correspondência passou a ser entregue com uma semana, dez dias, até, de atraso irritando os usuários e levando-os a concordar que a ECT tem que ser privatizada.

Como já vivenciei esse modus operandi, observo e sei exatamente o que vai acontecer nos Correios. E alerto aos postalistas que não se conformem em serem jogados, como restos inúteis, numa empresa qualquer do governo, pois é amargo dar de si uma vida inteira e depois ter que implorar para que seus direitos como ativos e aposentados sejam garantidos. O Banco do Brasil que vá se preparando, também, pois é desejo de Paulo Guedes vê-lo na lista das entregas aos amigos do rei.

É assim que funciona o Brasil.

Luiz Carlos Vaz

Jornalista, ferroviário aposentado