Colaboração do eng. Manoel Geraldo Costa.

Parte I

(Por Arnaldo Silva) A partir de meados do século XIX e até o final do século XX, os trens de passageiros cortavam o Brasil em trilhos. Levava e trazia gente. Quando chegava, levava emoções e sonhos de quem partia, deixando saudades e lágrimas, em quem ficava. Muitos sonhos, muitas esperanças, muitas alegrias, estavam presentes nas milhares de estações espalhadas por toda Minas e pelo sertão brasileiro. (na foto abaixo do Fabrício Cândido, estação em ruínas em Senhora dos Remédios MG, Campo das Vertentes).

Os sonhos embarcaram no trem que, durante décadas, ligavam estados e cidades, ligavam também emoções e saudades, de quem ia e de quem chegava. Mas um dia, o trem que levava emoções, partia com gente, que deixava corações partidos, em lágrimas, se foi também. (na foto abaixo de Marselha Rufino, a antiga estação de Itumirim MG).

O trem partiu para sua última viagem, deixando em seus vagões, um pouco da vida do povo brasileiro, principalmente do mineiro, porque trem é alma e identidade de Minas Gerais. O trem foi e não voltou mais. Os trilhos ficaram sem vida, as estações foram se deteriorando, esquecidas e abandonadas. O trem que outrora levada saudades, sonhos, esperanças, emoções, ficou no passado.         

No coração do mineiro, ficou o trem, onde os trilhos são as veias. O trem para o mineiro é tudo e tudo é trem para o mineiro, de tão importante que foi para a economia, emoções, sensações, esperanças e na identidade do povo mineiro. (na foto abaixo do Fabrício Cândido, antigos vagões abandonados nos galpões da RFFSA em Santos Dumont MG).

O Brasil foi o terceiro país da América do Sul a construir ferrovias, depois de Peru e Chile. Em meados do século XIX, foi criada, no Rio de Janeiro, a Companhia de Estrada de Ferro e Navegação Petrópolis e a E. F. Mauá, ambas da iniciativa privada. A primeira estrada de ferro construída no Brasil foi a E. F. Mauá, inaugurada em 30 de abril de 1854, que ligava o Porto de Mauá a Fragoso, ambas no Rio de Janeiro. A ferrovia, tinha apenas 15 km, com ideia original de ligar o Rio de Janeiro ao Vale do Paraíba e por fim, a Minas Gerais, até então, o Estado mais rico do país, onde o café despontava como a principal economia do país, depois do ouro.         

Pouco tempo depois, com o objetivo de estender as ferrovias para todo o país, o governo Imperial criou a estatal, Estrada de Ferro Dom Pedro II (1888-1889), mudando os nomes para E.F. Central do Brasil (1889-1964), E.F. Leopoldina (1964-1975), por fim para RFFSA (1975-1996).

A Central do Brasil iniciou suas operações, em direção a Minas Gerais, cortando nossas serras, ligando o Rio de Janeiro a importantes cidades mineiras, como Ouro Preto, Diamantina, Belo Horizonte, São João Del Rei, Juiz de Fora, Cataguases, Leopoldina, Governador Valadares, Poços de Caldas, Três Pontas, etc. Minas já era ligada ao Rio de Janeiro pelas estradas abertas durante a exploração do ouro e havia ainda, naquele tempo, uma ligação entre Petrópolis a Juiz de Fora, por uma rodovia de terra. Agora, seriam os trilhos que passariam pelas terras mineiras. Em 1869, era inaugurada a Estação de Chiador MG, Zona da Mata, com a presença do Imperador Dom Pedro II, sendo esse ano, o marco da chegada dos trens à Minas Gerais, através da E. F. Central do Brasil. (na foto acima do Duva Brunelli, a Estação de Chiador, recentemente restaurada e abaixo de Peterson Bruschi, a Maria Fumaça em Tiradentes, inaugurada em 1881, pelo Imperador Dom Pedro II).

Em 1874 os trilhos da Estrada de Ferro Leopoldina, chegam à Minas Gerais, abrindo estradas de ferro na Zona da Mata, com a inauguração de estações e do ramal de Leopoldina MG. Em 1880, foi a vez da E.F. Oeste de Minas construir seus trilhos em Minas Gerais. Em 1882, era criada a E.F. Bahia e Minas, que ligava o arraial de Ponta de Areia, em Caravelas, no litoral Sul da Bahia a Araçuaí MG, no Vale do Jequitinhonha, numa extensão de 578 km. Em 1884, surgia a E. F. Minas e Rio.

No ano de 1886, foi a vez da E. F. Morgiana, entrar no território mineiro, através de Poços de Caldas, no Sul de Minas. Em 1891, foi a vez dos trilhos da Viação Férrea Sapucaí. Em seguida, surgiram a E. F. Muzambinho, em 1892, depois a E. F. Três-pontana, em 1995. Em 1907, chegaram em Formiga MG os trilhos da E. F. Goiás, bem como, neste mesmo ano, a E.F. Vitória Minas.

Em 1910 chega a Machadense e a E.F. São Paulo-Minas. Em 1911, a E.F. Piranga. Em 1912, a linha férrea chega a Paracatu MG, no Noroeste de Minas. O Norte de Minas passou a contar ligação por trens apenas em 1951, através da Viação Férrea Leste Brasileiro.

Com o objetivo de promover e gerir o desenvolvimento do setor ferroviário no Brasil, foi criado em 1957, a RFFSA, sendo dissolvida a partir de 1997, quando iniciou-se o processo de privatização das ferrovias brasileiras. (na foto abaixo, do Rogério Salgado, a rotunda de Ribeirão Vermelho MG, construída em 1885, considerada a maior da América Latina. As rotundas tinham a forma circular e serviam como depósitos de locomotivas).

Essas ferrovias ligavam as regiões mineiras. Eram centenas de km de trilhos cortando Minas Gerais, ligando cidades, povoados e distritos, pelos trilhos. Levando e trazendo gente, levando e trazendo mercadorias e desenvolvendo as cidades. Não foram apenas essas as ferrovias, existiam outras pequenas ferrovias, de particulares. Muitas dessas pequenas ferrovias foram incorporadas às maiores, ao longo do crescimento da malha ferroviária.

  

Os trens transportavam cargas e também passageiros, cortando nossos sertões, adentrando túneis, passando por pontes (como na foto acima do Rhomário Magalhães, da Ponte Marechal Hermes, sobre o Rio São Francisco em Pirapora/MG), e parando em estações, ao longo de seus trechos. As linhas se expandiam muito rápido, principalmente para o transporte de passageiros. Para atender o maior número possível de cidades, novas estações e paradas eram construídas, facilitando a vida das pessoas e melhorando o escoamento da produção industrial e agropecuária das cidades. Foram milhares de estações construídas. 

Em torno dessas estações, moradias para operários eram construídas, bem como, pessoas que vinham de outras cidades e em torno das estações viviam, oferecendo comida, quitandas, doces para os viajantes que chegavam e partiam. Muitas dessas estações deram origem a distritos e até mesmo cidades, existentes hoje. (na foto acima do Aender Mendes, Estação de Garças de Minas, em Iguatama MG)

Continua no próximo domingo