Pesquisa e edição: Luis Fernando Salles

Nova controladora da Supervia, concessionária de transporte ferroviário do Rio, a Gumi Brasil vai priorizar a melhoria da qualidade de serviço da companhia. Tendo como principal acionista o grupo japonês Mitsui, a Gumi garante que a redução do endividamento vai permitir à empresa ferroviária investir quase R$ 1 bilhão nos próximos dez anos, apenas com a geração de caixa do seu negócio.

“Devido a uma série de dificuldades que estava passando nos últimos três anos, ela [Supervia] ficou focada na sua sobrevivência. Agora, a partir dessa reestruturação financeira, a empresa vai conseguir priorizar a qualidade do serviço, para que seja seguro, confiável e confortável”, disse Gustavo Guerra, diretor presidente da Gumi Brasil e presidente do conselho de administração da Supervia.

“Estimamos que a companhia vai ter capacidade de, nos próximos dez anos, investir cerca de R$ 800 milhões oriundos de sua própria geração de caixa. Houve uma redução do endividamento após injeção de capital usada para pagar dívida”, completou ele.

Com o aumento de capital de R$ 780 milhões, que resultou na reestruturação societária, a dívida da Supervia foi reduzida em cerca de um terço, passando de R$ 1,4 bilhão para R$ 900 milhões.

O plano dos controladores é implantar medidas para reduzir a evasão de passageiros e aumentar a segurança operacional. Em contrapartida, a companhia mantém conversas com o governo do Rio de Janeiro para assegurar que sejam adotadas ações de segurança pública, para reduzir a violência e a invasão nos 270 km da malha ferroviária e combater atos de vandalismo nas instalações da empresa. Afirmou Guerra.

A Gumi Brasil concluiu a aquisição do controle da Supervia no fim de maio, quase três meses depois do anúncio da operação. Com o negócio, a Gumi Brasil passou a deter 88,67% da Supervia. O restante ainda pertence à Odebrecht TransPort (OTP), consórcio formado pelo grupo Odebrecht, o FI-FGTS e o BNDESPar. A Gumi Brasil é subsidiária integral da Guarana Urban Mobility (Gumi), consórcio liderado pela Mitsui (57,6%) e que tem como demais acionistas a West Japan Railway Company (JRW), empresa japonesa de transporte ferroviário, com 24%, e o Join, fundo japonês especializado em investimentos em infraestrutura no exterior, com 18,4%.

O novo controlador também está discutindo com o governo do Rio um plano de redefinição do sistema de transporte da região metropolitana, para reduzir a concorrência entre modais, sobretudo linhas de ônibus e de trens. Segundo Guerra, na prática, a ideia é redirecionar algumas linhas de ônibus e alimentar o modal de alta capacidade. Um estudo apresentado em fevereiro pela Gumi ao governo indicou que a medida tem potencial de economia para o Estado, com redução de subsídios concedidos por meio do bilhete único.
“Com um sistema eficiente, todo mundo acaba ganhando. Hoje existem linhas de ônibus extremamente longas. Na verdade, elas poderiam ser mais eficientes se fossem mais curtas”, disse Guerra.

A recessão econômica e a crise particular do Estado do Rio de Janeiro nos últimos anos provocou uma queda acentuada do número de usuários da Supervia. A média de passageiros de 700 mil por dia útil (com pico de 730 mil), em 2016, caiu para 580 mil no início deste ano.

Logicamente, com a melhoria da economia que esperamos para o segundo semestre de 2019 e 2020, vai haver uma melhora gradual.

Após a conclusão da aquisição do controle da Supervia, por meio da Gumi Brasil, a Mitsui procura novas oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil. Segundo Kazuhisa Ota, representante do grupo japonês e novo diretor chefe executivo (CEO) da Gumi, dos cerca de US$ 100 bilhões de ativos do conglomerado no mundo, aproximadamente US$ 8 bilhões estão no Brasil.

“Sempre estamos acreditando no potencial do Brasil. E, apesar dos últimos anos em que o país sofreu uma queda da economia, o Brasil continua sendo um mercado importante para a Mitsui, disse o executivo.

Com relação ao negócio de transporte ferroviário de passageiros, existe um acordo entre a Mitsui, a West Japan Railway Company (JRW) e o Join para que todos os investimentos sejam feitos por meio da Guarana Urban Mobility (Gumi), sociedade firmada entre as três instituições.

Além da Supervia, do qual atua por meio da subsidiária integral Gumi Brasil, a Gumi possui participação minoritária em outros três negócios no Brasil: o VLT Carioca, o projeto do VLT de Goiânia e a linha 6 do metrô de São Paulo.

A Supervia, no entanto, será o primeiro negócio em que a Gumi será a controladora. “Gostaríamos de apoiar a Supervia para melhorar a qualidade de seu serviço e aumentar a satisfação de seus usuários. Queremos demonstrar um caso de sucesso para ampliar nossa área de atuação nesse ramo de mercado aqui no país”, disse Ota.

Segundo o executivo, no setor de transporte de cargas, por exemplo, a Mitsui pode atuar por conta própria. É o caso, por exemplo, da VLI Logística, em que o grupo japonês é sócio da Vale, FI-FGTS e Brookfield.

Entre os principais negócios do grupo japonês no Brasil estão participações acionárias na mineradora Vale e em distribuidoras estaduais de gás natural.

Na área de energia, a Mitsui adquiriu neste ano participação de 17% na Órigo Energia, empresa de geração solar distribuída. Na última semana, a empresa iniciou a operação de uma fazenda solar em Francisco Sá (MG), com 19.920 placas solares e capacidade de 5 megawatts (MW).

Com a operação, a companhia totaliza agora três unidades conectadas à rede da Cemig. A expectativa da empresa é conectar mais cinco fazendas até o fim do ano.

A Mitsui também tem 20% na Energia Sustentável do Brasil, dona da hidrelétrica de Jirau.

Fonte:  (Rodrigo Polito – Valor)