Por Fernando Abelha
A propósito das matérias veiculadas nos últimos dias, recebemos algumas colaborações de importantes técnicos ferroviários, que lembraram a antiga proposta da ANTT para erradicar o trecho Rio x Vitória. Consta do conteúdo enviado: Em agosto de 2013, o jornal A Tribuna, editado em Vitória, ES, publicou matéria intitulada “ Ferrovia mais antiga vai ser extinta”. O assunto referia-se a decisão do governo de Dilma Rousseff em erradicar, totalmente, a linha, mais que centenária, que liga a capital capixaba ao Rio de Janeiro, passando por Cachoeiro do Itapemirim e Campos dos Goitacazes. Esta linha de há muito encontra-se inoperante, abandonada, sob a alegação de não atender aos interesses econômicos da concessionária FCA – Ferrovia Centro-Atlântica, diga-se Vale do Rio Doce, embora, que no período da extinta RFFSA transportava grandes volumes de cargas em geral, além dos trens unitários voltados ao cimento, açúcar, granito, álcool, calcário e outros.
No mesmo ano, em audiência pública programada pela ANTT e realizada no Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, representantes das Associações dos Engenheiros Estrada de Ferro Leopoldina e da AENFER – Associação dos Engenheiros Ferroviários, e muitos outros técnicos ferroviários, contestaram, veementemente, a pretensão anunciada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, ao debaterem a proposta da Concessionária FCA de devolver a antiga linha Rio de Janeiro-Vitória, para o governo federal. A proposta previa a erradicação do trecho sob a alegação da construção de uma moderna ferrovia, com novo traçado.
Os técnicos ferroviários defenderam que a ferrovia existente deveria continuar em operação e não entendiam porque, encontrava-se com tráfego suspenso pela Concessionária, cuja alegação seria não haver demanda suficiente. Em defesa de sua permanência em operação, os representantes ferroviários alegaram que foi abandonado o transporte de produtos típicos do modal ferroviário, principalmente derivados de petróleo, o que acarreta hoje um grande número de caminhões tanques na rodovia, além de não atentarem para importantes projetos econômicos e de alto interesse nacional, naquela oportunidade em execução, tais como o polo petroquímico de Itaboraí e o Porto de Açú.
A erradicação da ferrovia, conforme opinião dos engenheiros, poderia ocorrer no momento certo, somente após a inauguração no novo projeto que deveria atentar, também, aos interesses nacionais e não somente aos da concessionária FCA. No entanto – aduziram – deve-se tomar muito cuidado com grandes investimentos em estudos e projetos, haja visto que as obras ferroviárias no Brasil dificilmente são realizadas dentro do cronograma estabelecido, vide a ferrovia Norte-Sul iniciada no governo do Presidente Sarney e ainda com poucos trechos construídos, com quase 30 anos de obras, ao custo exorbitante por suas paralizações e erros de projetos, execuções, além da corrupção.
Outro projeto onde foi gasto alguns milhões de reais – prosseguiram – é o do famoso Trem de Alta Velocidade para o que foi criada uma nova empresa estatal, a Empresa de Planejamento e Logística – EPL, que não se sabe o que faz atualmente, mas que tem diretoria, conselho, dentre outros custos.
Poderíamos lembrar também, as obras da Transnordestina, que se encontram paradas, com custos altíssimos, sem previsão de quando se reiniciará e muito pior, quando terminará?
A conclusão que se chegou em tal audiência pública, é que seria muito arriscado o governo receber de volta a ferrovia Rio – Vitória, pois como se sabe existe demanda para sua manutenção. Todavia a sua sustentação não interessa ao grupo detentor da malha ferroviária da região Sudeste, ou seja, a FCA (Vale do Rio Doce).
Como solução mais rápida, foi correr para a duplicação da rodovia e a ferrovia continua abandonada e sem perspectiva da volta do trem em tão importante trecho entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, ligando dois portos da maior relevância para a economia nacional, que são Rio e Vitória.

A concessionária abandonou diversos trechos alegando “falta de interesse econômico”, “baixa densidade de tráfego” etc. Os seus representantes devem acreditar que somos todos idiotas, Quando a antiga malha centro-leste foi concedida à operação privada, todos conheciam as suas potencialidades e problemas e as linhas”problemáticas” serviram para reduzir o valor de mercado das malhas, justamente para que as concessionárias investissem na recuperação. Os “espertalhões” assumiram e iniciaram, de imediato, o desmonte dos trechos que não lhes interessavam (ficaram apenas com o “filé”) e os “bobalhões” ficaram esperando uma ação contundente das autoridades, responsáveis pela fiscalização. Ledo engano!!! Defendo uma apuração séria de tudo que ocorreu após a desestatização e punição aos responsáveis pelo abandono de mais de 10.000 km de ferrovias por este país afora. Não podemos ceder!
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Caro Alexandre, na época da RFFSA, tinhámos 28 mil kilometros em operação, hoje não passa de 7 mil, então, o buraco é mais em baixo, e a verdade é que esta elite que governa o País, nunca vai fazer nada para reparar estes danos, são todos farinha do mesmo saco.
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João Batista
Por isto, acho que devemos denunciar, usar as redes sociais para mostrar o prejuízo causado pelas concessionárias e a omissão dos órgãos fiscalizadores. Não podemos é nos calar diante de tamanho descalabro. Postar fotos dos trechos abandonados nas redes sociais, repercutir, compartilhar, denunciar à Justiça…
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Prezados, realmente vocês tem toda razão. Sabemos de todas as dificuldades de ir contra toda essa estrutura, mas temos que insistir e mostrar toda essa destruição do patrimônio público. Não só as vias férrea, mas as estações, vide Barão de Mauá abandonada, não demorará muito para ficar caindo aos pedaços. Vai virar um prédio em ruínas, caso não seja tomada uma decisão sobre o mesmo. Este é o maior exemplo de falta de cuidado com um patrimônio histórico valiosíssimo. Este espaço que o nosso amigo Professor Fernando Abelha vem diariamente denunciando tais descalabros, pode sim ser muito bem aproveitado para além de denunciarmos, também propormos soluções sobre as ferrovias brasileiras. Meus cumprimentos ao Alexandre Delvaux e ao João Batista por seus pertinentes comentários. Não podemos nos omitir. Parabéns ao Prof. Abelha, um jornalista sério e competente, com tantos anos de experiência, dedicando-se as causas ferroviárias.
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Porque somente em nosso (POBRE) país, as coisas não dão certo? exemplo; ferrovias ( que foram dizimadas para dar lugar ao transporte rodoviário, coisa dirigida desde da era JK e muitos outros ” grandes patriotas” .
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