Estudo de lideranças capixabas aponta que a viabilidade econômica e operacional da EF-118 depende da inclusão do Ramal de Anchieta no projeto ferroviário

O Ramal de Anchieta é fundamental para que o estado do Rio se ligue à malha ferroviária nacional através da EF-118Divulgação
Por Mauro Silvamauro.silva@odia.com.br
O Dia – Há um novo elemento na discussão sobre a ferrovia EF-118, que ligará o Rio de Janeiro ao Espírito Santo. Um estudo elaborado pelo Conselho Temático de Infraestrutura e Energia (Coinfra) da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) conclui que a construção da ferrovia só faz sentido econômico e operacional se for incluído o Ramal de Anchieta, trecho de cerca de 80 quilômetros entre as cidades capixabas de Santa Leopoldina e Anchieta. O ramal complementará o trecho entre o Porto do Açu e Anchieta, que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) levará a leilão no primeiro trimestre de 2026. O estudo da Findes também aponta possíveis adequações no projeto para que a obra aconteça.
O Ramal de Anchieta estava previsto como contrapartida da Vale na renovação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). O acordo, contudo, não avançou. O governo federal e a mineradora não chegaram a um entendimento sobre o valor dos ativos envolvidos na repactuação contratual, estimada em R$ 6 bilhões para a construção do trecho. O Ministério dos Transportes considerou o preço proposto pela empresa baixo e interrompeu as negociações. O impasse também ganhou contornos políticos, com a proposta velada de que a Vale, ao invés do Ramal de Anchieta, invista na construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), ligando o futuro Porto de Ilhéus (BA) a Figueirópolis (TO).
Na análise do Coinfra, sem o Ramal Anchieta a EF-118 perderia grande parte da sua utilidade. Ligaria o Porto do Açu, no Norte Fluminense, ao Espírito Santo, mas ficaria sem conexão direta com a EFVM, o que comprometeria a oferta de carga e o equilíbrio financeiro da operação. Caso o acordo entre governo e Vale não seja retomado, os técnicos da Findes defendem a atualização dos estudos técnicos e financeiros (EVTEA) para incluir o trecho no escopo da própria EF-118.
Além da importância logística, a ligação entre a EF-118 e o Porto do Açu é estratégica para a Vale. A empresa e o terminal portuário assinaram um memorando de entendimento (MoU) para estudar a implantação de um Mega Hub destinado à produção de HBI (hot briquetted iron), ou ferro-esponja, produto essencial para a descarbonização da cadeia siderúrgica. O complexo deverá receber pelotas de minério de ferro da Vale e poderá incluir uma planta de briquetes para abastecer a produção de HBI, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e tornando o processo siderúrgico mais eficiente. Inicialmente, o projeto utilizará gás natural disponível no Porto do Açu, com possibilidade futura de conversão para hidrogênio verde, o que permitiria alcançar emissões próximas de zero.
Ao integrar ferrovia, porto e indústria limpa, o projeto reforça o potencial da EF-118 como eixo logístico e energético para o futuro. No entanto, enquanto o impasse sobre o Ramal de Anchieta persiste, o risco é que a ferrovia continue no papel, desperdiçando uma oportunidade histórica de transformar a matriz logística e produtiva do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Com as lideranças capixabas totalmente mobilizadas para que a obra aconteça, cabe agora às lideranças fluminenses mostrarem sua força em torno deste projeto de tamanha relevância
