Demolidas, deterioradas pelo tempo ou tombadas, essas estruturas arquitetônicas estão espalhadas pelo Brasil

As rotundas marcaram o transporte brasileiro entre o fim do século XIX e o início do século XX. Serviam para estacionar e manobrar  as composições. Hoje, parte delas está em ruínas, e poucas seguem preservadas como patrimônio histórico e cultural (veja fotos no final desta reportagem).

“A função da rotunda era estacionar a locomotiva para manutenção. Geralmente eram os próprios maquinistas ou foguistas que faziam esse trabalho, e muitos relatam o carinho que tinham pelas máquinas”.

A afirmação vem do Doutor em História, Marco Henrique Zambello, em entrevista ao iG Turismo. .

“ A rotunda, além de ser uma beleza arquitetônica do período industrial, conta a história dos trabalhadores que faziam a manutenção das locomotivas ”, explicou.

De 90 a 360 graus

As rotundas eram comuns em regiões com grande fluxo ferroviário, importadas dos modelos utilizados nos Estados Unidos e na Europa. 

Elas foram construídas em 90, 180, 270 ou 360 graus. 

Minas Gerais concentra exemplares de destaque, como de São João del-Rei, local de atração de turistas, como mostrou o colunista Celso Martins , do iG Turismo.  O formato desta estrutura é em 360 graus.

Outra rotunda conhecida em Minas Gerais fica em Ribeirão Vermelho , no mesmo formato.

A de Campinas, no interior paulista, é no formato de meia-lua: 180 graus.

Patrimônio x abandono

Zambello afirma que as rotundas faziam parte de um pacote arquitetônico oferecido por indústrias ferroviárias no século XIX.

“ Elas eram um elemento de exibição da modernidade em um ambiente rural. Não é à toa que as estações eram chamadas de catedrais do século XIX ”, afirmou.

Com a modernização, várias estruturas desapareceram. Belo Horizonte (MG) e Campinas perderam rotundas históricas, preservadas apenas em registros fotográficos e na memória de ex-ferroviários.

“ Quem deveria cuidar desses patrimônios é o município. A memória ferroviária faz parte da história da cidade e precisa ser preservada ”, disse.

Ele acrescentou que em países europeus a população participa ativamente da preservação, garantindo a vitalidade dos museus ferroviários.

O abandono, segundo ele, também está ligado à falta de prioridade política.

“ Se a gente esperar do poder público, vamos perder muito. É raro encontrar governos comprometidos com a memória e o patrimônio ”, avaliou.

Apesar disso, algumas cidades valorizam a herança ferroviária, ou pelo menos estão em busca de reviver esse passado.

Em Porto Velho, por exemplo,  a rotunda integra o complexo em que a  Maria Fumaça vai ser restaurada

“ É a história de maquinistas, chefes de estação e trabalhadores que transportaram pessoas e riquezas. Preservar esses espaços é preservar a memória das cidades e de quem as construiu ”, concluiu.

iG Turismo separou 25 rotundas que marcaram a história do Brasil e que estão espalhadas pelo país. Algumas seguem firmes, enquanto outras somente nas memórias. Veja a seguir:

Campinas (SP): A rotunda da Companhia Paulista de Estradas de Ferro já não existe. A demolição ocorreu possivelmente em 1922, quando começaram as linhas eletrificadas no trecho. Imagens de 1918 mostram a estrutura ainda em funcionamento. Ela ficava ao lado da rotunda da Mogiana, que sobreviveu por mais tempo. Esse conjunto ferroviário foi um dos mais importantes do interior paulista, mas hoje restam apenas registros fotográficos e memoriais.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Campo Grande (MS): A rotunda de Campo Grande foi inaugurada em 1930, com capacidade para 22 locomotivas. Tinha formato semicircular de 180 graus e funcionava ligada à Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Em 2024, imagens mostraram o prédio em ruínas, com telhado destruído e paredes em colapso. Mesmo tombada, sofre abandono e falta de preservação.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Fortaleza (CE): A rotunda de Fortaleza foi uma das primeiras do Nordeste, ligada à Estrada de Ferro de Baturité. Construída ainda no final do século XIX, ficava próxima à antiga estação da capital. O prédio foi demolido, e não há mais vestígios da estrutura. Apenas registros históricos confirmam sua existência.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Natal (RN): Natal (RN) A capital potiguar também teve uma rotunda, provavelmente ligada à Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. Há indícios de que foi construída nos anos 1940, mas não existem registros detalhados sobre dimensões e funcionamento.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Salvador (BA): A rotunda de Salvador pertenceu à Viação Férrea Leste Brasileiro e ficava próxima à estação ferroviária da Calçada. Documentos apontam que operava desde o início do século XX, mas não há informações precisas sobre sua construção. Registros fotográficos são raros.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Três Rios (RJ): A rotunda de Três Rios, antiga Entre Rios, foi construída fora do pátio principal da estação. Na década de 2010, ainda era utilizada pela empresa T-Trans para reformas ferroviárias. Segundo especialistas, a estrutura perdeu características originais. O girador é o único elemento preservado, já que telhado e paredes foram descaracterizados ao longo das décadas.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Curitiba (PR): A rotunda de Curitiba foi construída em 1910 no bairro Rebouças, próxima ao pátio ferroviário da capital paranaense. Originalmente tinha 180 graus e era usada pela Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. Com o passar das décadas, passou por reformas que alteraram sua estrutura. Em 2009, fotografias mostravam o prédio já descaracterizado, sem telhados originais e com paredes adaptadas para outros usos.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Cruz Alta (RS): Construída provavelmente nos anos 1930 ou 1940, a rotunda de Cruz Alta tinha 90 graus e ficava na linha de Marcelino Ramos a Santa Maria. Em 2017, registros mostravam a estrutura abandonada, com parte da cobertura modificada em reformas anteriores.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
São Diogo (RJ): Construída em 1860 no pátio de São Diogo, a rotunda tinha 270 graus e ficava ligada ao ramal da Central do Brasil. Em 1927, parte do telhado desabou durante reforma, levando à demolição no ano seguinte. O girador permaneceu por algumas décadas, mas foi aterrado posteriormente. Fotografias históricas mostram o acidente que marcou o fim do prédio.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Uberaba (MG): A rotunda de Uberaba, da Companhia Mogiana, tinha formato de 180 graus. Fotografias de 1937 registram sua arquitetura, mas não existem informações detalhadas sobre o período de desativação. Assim como outras construções ferroviárias da região, foi demolida após a mudança das oficinas e a substituição das locomotivas a vapor.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Ribeirão Vermelho (MG): A rotunda de Ribeirão Vermelho foi inaugurada em 1896 e construída com material importado da Escócia e da França. Tinha 360 graus e servia tanto para depósito quanto para manutenção de locomotivas. Hoje, encontra-se em ruínas. Fotografias de 2020 mostram a degradação do prédio, que já foi referência da arquitetura ferroviária mineira. Ela, no entanto, será revitalizada após 40 anos.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Barra do Piraí (RJ): A cidade contou com duas rotundas. A primeira, de 360 graus, foi reduzida e demolida após a construção da segunda, em 1891. Essa segunda estrutura tinha fachada com frontão em forma de locomotiva. Fotografias de 1930 mostram o interior já em desgaste. Em 2000, imagens revelam o pátio ainda de pé, mas com sinais de abandono.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Sete Lagoas (MG): Localizada no pátio da Estação Central do Brasil, a rotunda de Sete Lagoas tinha formato semicircular de 180 graus. Não há registros precisos sobre sua construção e desativação. Fotografias de diferentes épocas mostram o espaço ainda em funcionamento, mas em data não identificada a estrutura foi demolida.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
São João del-Rei (MG): A rotunda de São João del-Rei não tem data exata de construção registrada. O único dado aparece em relatório da Estrada de Ferro Oeste de Minas de 1895, que cita despesas de 121 contos de réis. Nos anos 1970, a estrutura foi quase destruída, restando apenas as paredes de alvenaria e o girador. Em 1983, a RFFSA recuperou o espaço, transformando-o em oficina radial com 30 colunas de ferro fundido e formato poligonal de 30 lados. Hoje, o prédio abriga o Museu Ferroviário.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Porto Novo do Cunha (MG): Localizada em Além Paraíba, Minas Gerais, a rotunda de Porto Novo do Cunha foi construída em 1871. Era usada inicialmente pela Estrada de Ferro Dom Pedro II e, depois, pela Leopoldina. Apesar do péssimo estado de conservação, ainda funciona como depósito. Em 2008, parte da estrutura desabou após fortes chuvas. É uma das rotundas mais antigas do país.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
São José do Rio Preto (SP): A rotunda de São José do Rio Preto teria sido demolida nos anos 1950, quando houve alargamento da bitola da linha e fim do uso das locomotivas a vapor. O prédio ficava próximo ao atual terminal de ônibus urbanos. Fotografias aéreas mostram os telhados individuais de cada baia. Não restaram registros em solo da estrutura.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Cruzeiro (SP): Construída em 1930, a rotunda de Cruzeiro abrigava até 15 locomotivas. Após anos de abandono, foi transformada em centro cultural nos anos 1990. O prédio de 6.361 m² passou por reformas com apoio da Fundação Iochpe-Maxion e hoje é espaço de atividades culturais. O caso de Cruzeiro é um dos poucos exemplos de reaproveitamento das antigas rotundas.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Catanduva (SP): A rotunda de Catanduva também foi demolida, provavelmente na década de 1950, junto com a de São José do Rio Preto. Não há imagens conhecidas do espaço. Assim como outras cidades da região, a adaptação da ferrovia e o abandono das locomotivas a vapor levaram à extinção da estrutura.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Lins (SP): A rotunda de Lins começou a ser construída em 1938 e foi concluída apenas em 1947. Tinha 270 graus e cerca de 6.500 m² de área. Funcionou por 14 anos, até 1962, quando o novo pátio ferroviário foi inaugurado. Depois, passou a ser depósito da prefeitura, mas perdeu essa função em 2020, com parte do telhado destruído. O prédio é tombado, mas sofre com abandono e risco de desabamento.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Casa Branca (SP): A rotunda de Casa Branca funcionava no pátio ferroviário da cidade. Foi demolida por volta de 1951, após a abertura de uma nova estação fora da área urbana. O prédio, com estrutura em madeira, aparece em fotografias de 1910 e 1938, destacando a importância da região no mapa da Mogiana. Hoje, não há vestígios da construção.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Rio Claro (SP): A rotunda de Rio Claro ficava ao lado das oficinas da Companhia Paulista. Foi utilizada para manutenção das locomotivas a vapor que operavam no ramal Rio Claro-Analândia, ativo até 1966. Em 2014, já estava descaracterizada. Parte de sua parede traseira passou a ser usada como muro de quadra esportiva de uma escola técnica. Fotografias antigas comprovam sua semelhança com a rotunda da Paulista em Campinas.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Campinas (SP): A rotunda da Companhia Mogiana foi inaugurada em 1903 e funcionava com linhas de bitola métrica. Localizada no pátio ferroviário de Campinas, chegou a operar junto com outra rotunda da Companhia Paulista. Hoje, o prédio permanece abandonado, sem uso pela concessionária atual. Fotografias de 1910 e 1967 mostram a estrutura em plena atividade, contrastando com imagens recentes que registram deterioração. Curiosamente, a cidade contou com duas rotundas no mesmo pátio, mas apenas a da Mogiana resistiu ao tempo, mesmo sem manutenção.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Araraquara (SP): A rotunda de Araraquara segue em pé e ainda funciona como oficina ferroviária. Pertenceu à Estrada de Ferro Araraquara, depois à Fepasa e, atualmente, é operada pela concessionária ALL. Não há informações exatas sobre sua inauguração, mas registros de 2010 mostram a estrutura ativa e adaptada para novas funções.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Ribeirão Preto (SP): Ribeirão Preto contou com duas rotundas. A primeira, de 90 graus, teria sido demolida por volta de 1912, quando uma segunda estrutura de 360 graus foi inaugurada. Essa nova rotunda possuía dois giradores e funcionou até o final dos anos 1960, quando a estação foi transferida. Há relatos de que poderia ter resistido até 1972, mas sem confirmação. O espaço era considerado um dos maiores do interior e teve importância no auge da Mogiana. Hoje, não restam vestígios físicos.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil
Bauru (SP): Não há registro exato da inauguração da rotunda de Bauru, mas documentos indicam que foi reformada em 2007. Fotografias dos anos 1920, 1930 e 1947 mostram a relevância do espaço. O prédio abrigava locomotivas da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, mas sua situação atual é incerta. Em 2009, imagens apontavam para uso precário. Uma curiosidade é que a rotunda possuía grande capacidade operacional, sendo um dos símbolos da ferrovia no centro do estado.. Foto: Reprodução/Estações Ferroviárias do Brasil

Fonte: IG.com