Correio Popular (Campinas-SP) – O Trem Intercidades (TIC) São Paulo-Campinas (Eixo Norte), projeto orçado em R$ 14,2 bilhões, já criou 600 empregos. O número foi atingido com a formação de 300 profissionais entre maquinistas, operadores de tráfego, estações e Centro de Controle Operacional (CCO), além de outros, para trabalharem nos três serviços sob gestão da concessionária TIC Trens, responsável pela implantação e gerenciamento do projeto. Eles vão atuar na modernização e operação da Linha 7-Rubi, que será assumida em definitivo a partir de 26 de novembro próximo, e no Trem Intermetropolitano (TIM) e Trem Intercidades.
A turma formada se junta a outros 300 funcionários das áreas administrativa, técnica e de projetos da empresa. Os maquinistas passaram por aulas de operação assistida com equipes da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) – que está fazendo a transferência da Linha 7 para a TIC Trens – e também receberam instruções sobre simuladores, normas de segurança e conhecimento técnico do projeto. Os controladores, por sua vez, passaram por curso de especialização em sinalização, via permanente, sistema de comunicação e segurança operacional.
“O trabalho conjunto entre maquinistas e controladores será decisivo para garantir conforto e segurança ao passageiro. Essa formatura é um passo concreto para a operação que entregaremos à população”, afirmou o diretor de Operações e Manutenção, da TIC Trens, José Luiz Bastos. O empreendimento deverá gerar 10,5 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, incluindo a fase de construção, de acordo com projeção do governo do Estado.
CONTRATO
A concessionária também assinou o contrato com a empreiteira que ficará responsável pela construção do TIC São Paulo-Campinas. A obra, prevista para começar em oito meses, será executada pela Engetrens Serviços de Engenharia e Projetos, com a realização do empreendimento ficando nas mãos de empresas ligadas às vencedoras da licitação internacional do projeto, a empresa brasileira Comporte Participações S.A. e a estatal chinesa CRRC Hong Kong Co. Limited, que formaram o consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos e criaram a empresa TIC Trens para operar os serviços.
A Engetrens foi fundada há um ano, conforme dados do cadastro empresarial, depois de assinado o contrato entre as ganhadoras da concorrência e o governo do Estado para a concessão do serviço, que tem prazo de 30 anos. A empresa, que será responsável pela engenharia, gestão de compras e construção, tem como sócios a Comporte e mais quatro pessoas – Alexandre Barbosa Marujo, José Efraim Neves da Silva, José Mendes e Paulo Sérgio Coelho. A Comporte é um conglomerado que reúne várias empresas de ônibus de linhas regulares e de fretamento, operando ainda o metrô de Belo Horizonte (MG) e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da Baixada Santista, no litoral paulista, através da concessionária BR Mobilidade.
O grupo atua em cerca de 700 cidades em 13 unidades federativas, incluindo o Distrito Federal, contando com uma frota de 7,2 mil ônibus entre urbanos, suburbanos, fretamento e rodoviários. A CRRC, maior fabricante de material rodante ferroviário do mundo, será a fornecedora dos trens e sistemas. De acordo com o diretorpresidente da TIC Trens, Pedro Moro, o empreendimento está na fase de elaboração e aprovação de projetos executivos (obras, estações, sistemas de energia etc.), obtenção de licenças ambientais e desapropriações.
“A gente precisa trabalhar em toda a aprovação dos projetos conceituais, com foco principalmente em como serão as estações”, afirmou o diretor-presidente da concessionária, Pedro Moro, que foi presidente da CPTM entre 2019 e 2024. Todas as cinco estações ferroviárias do Trem Intermetropolitano são tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Esse serviço ligará Campinas, Valinhos, Vinhedo, Louveira e Jundiaí. A tarifa estimada é de R$ 14,05, com previsão de transportar cerca de 2 mil passageiros por viagem. O trajeto deverá ser feito em 33 minutos, com o início da operação programado para maio de 2029.
FEITOS NO BRASIL
Já o TIC será um serviço expresso ligando São Paulo, Jundiaí e Campinas. A viagem de 110 quilômetros tem tempo estimado em 64 minutos. A passagem custará R$ 64. O Trem Intercidades deverá começar a circular em 2031.
Ao contrário do previsto inicialmente, os trens que rodarão nas duas linhas serão produzidos no Brasil, em Araraquara (SP). Antes, eles seriam importados da China. A CRRC anunciou um investimento de R$ 50 milhões para instalar uma fábrica no antigo prédio de uma metalúrgica desativada na cidade, com previsão de gerar 100 empregos. A instalação da planta foi viabilizada após a estatal chinesa vencer a licitação pública de R$ 3,1 bilhões para fornecer 44 novos trens para a expansão das linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha do metrô de São Paulo. Com isso, os trens a serem usados do TIC Eixo Norte também serão produzidos nessa unidade. O primeiro trem para o metrô deverá ser entregue em maio de 2027.
“Estamos iniciando uma nova fase em Araraquara. A chegada da CRRC representa mais do que uma fábrica, é um marco para geração de emprego, renda e dignidade, afirmou o prefeito da cidade, Marcelo Lapena, o Dr. Lapena (Patriota). Os projeto do TIC e modernização do metrô fazem parte do Programa SP nos Trilhos, com investimentos previstos de aproximadamente de R$ 190 bilhões. Ele reúne 40 projetos voltados à infraestrutura ferroviária, abrangendo em torno de 1 mil quilômetros de trilhos no Estado. A estimativa é de geração de cerca de 150 mil empregos.
NOVAS EMPRESAS
A previsão é que o projeto do Trem Intercidades Eixo Norte seja um indutor de atração de instalação de novas empresas e empreendimento nas cidades das regiões metropolitanas de Campinas e Jundiaí. “Muda a dinâmica de ocupação territorial. Isso mexe com o mercado imobiliário, são mais empreendimentos, mais construções, mais obras. As atividades vão se desenvolvendo ao longo do tempo. Vale a pena você ter a sua planta (indústria) num local que será atendido pelo trem, porque terá transporte para seus funcionários”, disse o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para ele, o TIC garantirá um meio de transporte de grande capacidade e eficiente.
O projeto será implantado através de Parceria Público-Privada (PPP). O governo do Estado fará um investimento de R$ 8,5 bilhões, com o restante sendo feito pela TIC Trens. O montante previsto não inclui R$ 1,15 bilhão a ser destinado para reforma e ampliação da estação Água Branca, ponto de partida do serviço na capital. O objetivo é transformar o local em um hub ferroviário, conectando diversas linhas do metrô. Além da linha para Campinas, ele também receberá o TIC São Paulo-Sorocaba (Eixo Oeste), Linha 7-Rubi e as linhas do metrô 6-Laranja, 9-Esmeralda, 8-Diamante e 3-Vermelha.
A Água Branca substituirá a Estação Barra Funda, que era a prevista na licitação inicial do Eixo Norte. O aditivo do contrato com a TIC Trens para mudança foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo (Doesp) de 5 de março deste ano, com o governo assumindo a responsabilidade de garantir “oportunamente” o equilíbrio econômico-financeiro do projeto.
