Do livro ” Pequena Antologia do Trem”. Pesquisa e edição do jornalista e ferroviário Lais Costa Neto.

 

Anibal Machado

“Locomotiva para onde quer que vás

Aldeia ou porto

Apita.

Para o Sul

Para o Norte

Há milhões de corpos sob a terra

Milhões de espetros nos vagões.

Trem do amanhecer

Rompe o silêncio branco

Recomeça devagar

Tua marcha de quebra-gelo.

Através de campos carbonizados

Apita, locomotiva,

O longo apito de acordar.

Apita bem alto

Para fora da terra

Para além dos céus.

Apita entre os cemitérios

Apita para o espanto dos que ficaram

Apita de novo para a vida

Primeiro trem da madrugada”.