Por Fernando Abelha

É preocupante o momento que a nossa categoria vive e necessita encarar as negativas de reajustes salariais, com coragem para encontrar soluções. Vamos para o terceiro ano em que não obtemos os nossos reajustamentos salarias pelo mínimo: a inflação reconhecida e anunciada pelos governantes. Descumprem a Constituição Federal e ignoram os ínfimos direitos que necessitamos para concluirmos o nosso ciclo de vida com dignidade.

A Federação Nacional dos Trabalhadores Ferroviários – FNTF tem feito o que é possível, dentro da legislação trabalhista, para que a empregadora VALEC, bem como Tribunal Superior do Trabalho – TST, façam cumprir os preceitos constitucionais e nos garantam o indispensável recurso para sobreviver: A correção monetária dos nossos vencimentos à cada ano, além da restituição do que já nos tiraram no passado, por aceitarmos que os nossos salários fossem reajustados abaixo da inflação ou, até mesmo, em nada receber de atualização monetária como ocorreu  antes da FNTF assumir o Acordo Coletivo do Trabalho a nível nacional, socorrendo, assim, a todos os sindicatos, mesmo aos que a ela não são filiados. Ao permanecer na Justiça trabalhista regional como vinha sendo praticado no passado, tudo seria muito pior.

Em contato com a FNTF após a reunião do dia 14 com a VALEC, questionamos sobre o que é necessário fazer para que tenhamos os nossos direitos reconhecidos. Pasmem: assim responderam. A dificuldade não passa tão somente pela VALEC. Muito mais pelo SEST e Ministério da Economia. A concessão da revisão inflacionária para os 80 ferroviários remanescentes da extinta RFFSA, 50% deles já aposentados e que não têm como fazer greve pelas características de suas atuações puramente administrativas, não seria o pior problema. O que o Ministério da Economia não quer é estender esse reajuste salarial aos 60 mil aposentados e pensionistas. Alegam que não têm dinheiro para tanta despesa!… Mas têm R$ 3 bilhões para favorecer parlamentares em suas emendas e, em contrapartida, garantir apoio aos projetos do governo. Não dá para entender!… Nós também somos filhos de Deus!…

Não ter dinheiro não é problema nosso. Trabalhamos, diuturnamente, por um século e meio, para garantirmos o transporte ferroviário quando mais o Brasil necessitava. Nos Reinados e a partir da primeira República até a extinção da RFFSA, há cerca de 20 anos. É de se ressaltar que a grande maioria dos ferroviários aposentados e pensionistas, não tem a complementação (paridade) e muito menos são participantes da Fundação REFER. Todos com mais de 70 anos, sendo que em 2018 foram cerca de dois mil óbitos. A média salarial da categoria é de R$ 1.400,00, segundo dados obtidos, recentemente, no que sobrou da RFFSA.

Na contramão do restante do mundo, abandonaram as ferrovias e partiram ao rodoviarismo, diga-se Dr. Juscelino Kubistchek de Oliveira, que assim procedendo, proporcionou à época, melhor resposta política ao seu governo, isso a partir de meados da década de 50 do século passado. A resposta aí está. Os caminhoneiros ditam as regras. O que sobrou da RFFSA aniquilada, criminosamente, por Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e o sempre ausente Temer e até agora sem nada de concreto pelo governo Bolsonaro, está nas mãos da iniciativa privada. Meia dúzia de empresários, nadam de braçada limitando o transporte às cargas dos seus negócios, endinheirando-se,  em face das precárias e descompromissadas interveniências governamentais, diga-se DENIT, na fiscalização dessas concessões. Fazem o que bem entendem para os seus próprios lucros. A partir deles, 12 mil quilômetros de linhas foram abandonadas e milhares de locomotivas, vagões, carros de passageiros e oficinas, tomadas por criminosos desperdícios e descontroles são, continuadamente, saqueadas. E ninguém responde por tantas irresponsabilidades. No entanto, para reajuste dos salários de aposentados e pensionistas pela inflação ditada pelo governo  ” não há dinheiro”.

O governo entende que os ferroviários são descartáveis. Cerca de 80 ainda em atividade e 60 mil aposentados e pensionistas idosos. Para eles, aposentados e pensionistas ferroviários, no final da existência, merecem ficar na penúria, pelo entendimento dos caprichosos governantes.

Construímos um história de lutas. Nos resta, agora, tão somente, juntar o resto das forças e partirmos para ações públicas no sentido de fazer valer os nossos direitos. Não adiantam ações políticas junto aos parlamentares, em um momento em que Parlamento e Executivo não se entendem, além de, comprovadamente, não respeitarem   os princípios mínimos à dignidade das pessoas. Por sua vez, ações políticas junto ao TST são desaconselháveis. Não vislumbramos mais atitudes que a FNTF possa, legalmente desenvolver, quanto o que à legislação trabalhista baliza. A partir das mudanças na legislação trabalhista, para  impetrar-se Dissídios Coletivos, as duas partes têm que estar de acordo. Isso está claro na Ata da reunião do dia 14 no TST. Perguntamos: Quando a empresa concordará em debater com o trabalhador após essa premissa da legislação trabalhista? Além do mais, hoje está tudo agravado pelo fim da contribuição sindical anual. Entre outras categorias, os Sindicatos Ferroviários, Federação e Confederação estão sem recursos para subsistir. Restam, ainda, algumas Associações de Classe. É a hora de darmos as mãos e partirmos na defesa dos nossos direitos. Não queremos muito. Apenas que cumpram a Constituição e nos garantam a correção monetária. Para tanto, é necessário nos sindicalizar e assim reforçar os recursos que os Sindicatos e Associações de Classe necessitam para se manterem de pé. É uma fração do nosso salário que poderá representar muito para nossa vitória.

Ferroviários: se não nos organizarmos e agirmos de imediato, tudo ficará pior até a nossa aniquilação pelo caminho da dependência e da pobreza. Somos idosos. Para eles, governo, o melhor é que morramos para, assim, não os incomodar em ter questionado o a revisão dos nossos salários. Essa liderança cabe aos Sindicatos e Associações de Classe. Assim esperamos…