Pesquisa e edição: Luis Fernando Salles

Comentário de Fernando Abelha

A nossa história registra que o Norte e o Nordeste brasileiro estão sempre em segundo plano nos investimentos de infraestrutura que, preferencialmente, beneficiam o Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O exemplo da transposição do Rio São Francisco, inaugurada parcialmente pelo presidente Temer, surge como desaponto à esperança e expectativa dos irmãos nordestino ao deixar cidades de Pernambuco sem a indispensável água para sobrevivência da sua brava população. Hoje, com a vergonha nacional desnudada pelos marginais delatores de outros marginais, fruto da operação Lava a Jato, a vergonha enrubesce a face  de brasileiro do bem, quando se depara com a situação de milhões de compatriotas que se vêm ao abandono pelo pelo descaso e roubalheira dos governantes, somente comprometidos pelos interesses pessoais.

Cidade de Pernambuco abriga esqueletos da transposição

Localizada no coração do semiárido nordestino, a pernambucana Salgueiro foi há até pouco tempo um oásis no sertão, ilha de prosperidade uma das regiões mais pobre do país.

Atraídos por duas grandes obras de infraestrutura e milhares de empregos, a transposição do rio São Francisco e a ferrovia Transnordestina, trabalhadores de todo o Nordeste chegaram a Salgueiro.

Hoje ambas estão paradas, com a maior parte dos canteiros abandonada e trechos já prontos se deteriorando sem proteção contra sol e chuva.

A cidade de 60 mil habitantes integra o braço inicial do eixo norte da transposição, que era de responsabilidade da empreiteira Mendes Júnior, considerada inidônea por irregularidades investigadas na Lava Jato e que abandonou a obra. O Ministério da Integração aguarda o desfecho de uma nova licitação para retomar as obras no trecho.

A posição estratégica –equidistante das principais capitais nordestinas e no cruzamento das BRs 232 e 116– foi determinante para que Salgueiro também abrigasse o principal canteiro da Transnordestina. Iniciada em 2006, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, a ferrovia tem projetados 1.753 km, dos quais só 600 km estão concluídos.

Concebida para interligar os portos de Pecém (CE) e Suape (PE) a regiões produtoras de grãos e minério no Piauí, a Transnordestina tem as obras paralisadas desde pelo menos o ano passado–há trechos parados há anos.

Embora esteja a cargo de uma empresa privada, a TLSA (Transnordestina Logística), subsidiária da CSN (Companha Siderúrgica Nacional), a obra sempre dependeu de aportes do governo federal.

Em janeiro passado, o TCU determinou a suspensão de repasses governamentais, apontando “alto risco de não conclusão” da ferrovia.

Em nota, a TLSA se disse “totalmente empenhada no planejamento da retomada das obras de construção da ferrovia assim que possível”.

Operador de trator, Everaldo Barros de Oliveira, 39, trabalhou dois anos (2015 e 2016) pela Mendes Júnior nas obras da transposição. Recebia, com horas extras, R$ 2.500 por mês. Com a paralisação, foi dispensado e virou frentista num posto, onde ganha hoje R$ 1.200, menos da metade. “Estamos esperando que [a obra] volte, mas ninguém sabe quando.”

Fonte: Folha de São Paulo