Colaboração de Silvio Ferreira

Edição de Luis Fernando Salles

Ferrovia do aço
Apenas de Belo Horizonte a Itabirito há seis túneis e quatro vidutos inoperantes

Estruturas remanescentes da Ferrovia do Aço apodrecem no tempo, cortando comunidades que não são beneficiadas pelos gastos, criando espaços ocupados por criminosos e passagens que ligam nada a lugar nenhum.

Cortando comunidades pobres, com altos índices de violência, e servindo de espaço para desmanches de veículos e assaltantes, as estruturas abandonadas da Ferrovia do Aço são um exemplo gritante de desperdício do dinheiro público. Desde 1973, quando começou a ser construída, a ligação férrea entre Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro jamais teve um vagão sequer circulando em muitos trechos, como o de Belo Horizonte a Itabirito, passando por Sabará. Só nesse segmento, foi abandonada uma sequência de seis túneis e quatro viadutos.

É em Sabará, na Grande BH, que boa parte dessa estrutura é avistada como monumentos ao desperdício. Uma sequência de quatro túneis entre os morros do município está entre os nove quilômetros desse tipo de passagem que foram esquecidos. Terminaram inundados, pichados e depredados. O local, ainda que reconhecidamente perigoso, por figurar como cenário de vários crimes, é ainda usado por trilheiros que desafiam a sorte entre os caminhos abertos entre o mato e os desmanches de veículos – que, depois de “depenados”, são incendiados. Uma dessas passagens foi bloqueada e a água acumulada chega à altura do joelho. Sinais da década de 1970 mostram há quanto tempo esses monumentos ao descaso estão abandonados, a não ser pelos morcegos que se dependuram no alto da estrutura de concreto.

Pouco antes, oito pilares que nunca suportaram trilhos se erguem sobre a rodovia MG-05 e o Rio das Velhas, no caminho para Sabará. No meio deles, a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) continua a servir de caminho para o escoamento da produção de minério de ferro e aço de Minas Gerais, e ainda é trajeto da única linha férrea diária interestadual do Brasil –um exemplo de como é importante esse tipo de transporte, bem ao lado das demonstrações de desperdício.

Em Honório Bicalho, dos trilhos que deveriam seguir o curso do Rio das Velhas, na ligação entre Raposos e Rio Acima, restaram menos de 500 metros. Casas invadiram áreas de domínio da ferrovia, plantas encobrem a linha férrea, antigas casas de arquitetura ferroviária foram invadidas e descaracterizadas, enquanto barracões e garagens foram erguidos no antigo caminho das locomotivas. “Há quadrilhas especializadas que chegam armadas e usam caminhões com braços hidráulicos para içar e levar os trilhos, que não são vigiados. Para impedir isso, só com tombamento e guarda dos órgãos responsáveis”, afirma Paulo Scheid, da organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) Trem de Minas.

Há estruturas históricas, como as pontes de aço sobre o Rio das Velhas, entre Raposos e Nova Lima, que também se acabam sem qualquer cuidado ou manutenção. Os vãos entre os trilhos foram cobertos por terra e brita, transformando a passagem numa estrada precária para carros, motocicletas e carroças. Em um dos pontilhões do trecho, em Raposos, os trilhos praticamente desapareceram, soterrados para possibilitar a passagem de veículos. Inscrições que fazem referência à antiga ferrovia estão descaracterizadas pelo roubo de letras e por pichações. O avanço das invasões na área de domínio e sobre as estruturas da ferrovia vai engolindo peças antigas da estrada. As casas em terreno invadido acabam sendo construídas em áreas alagáveis nos períodos chuvosos, o que representa ameaça aos moradores.

Os trilhos, viadutos e túneis abandonados da Ferrovia do Aço e os que restaram da ferrovia de Raposos a Rio Acima são de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Segundo o departamento, esse patrimônio vem sendo cedido às prefeituras dos municípios cortados pelas ferrovias. Mas, especificamente para os trechos citados pela reportagem, não há ainda nenhuma ação de concessão, seja para reativação ou uso diverso.

Fonte: Internet

Autor:  Mateus Parreiras

Foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press