Reportagem de Luis Fernando Salles e Vinicius Tresse
Apesar de projetos, a estação ainda se encontra em mal estado de conservação
A Estação Ferroviária da Leopoldina, no bairro imperial de São Cristóvão na região central do Rio, sofre de abandono por parte das autoridades públicas federais e estaduais. Inaugurada em 1926, a estação era, à época, a principal do então Distrito Federal no Estado do Rio de Janeiro, recepcionando cargas e passageiros da Zona da Mata Mineira, do Norte Fluminense e do Estado do Espírito Santo, além de atender aos subúrbios cariocas. Hoje o que se encontra é um prédio fantasma, com sua fachada completamente pichada, desconfigurando um importante patrimônio histórico e cultural.
A estação tem arquitetura eduardiana, inspirada em construções palacianas inglesas. De estilo eclético, o prédio é assimétrico, já que não foram seguidos à risca os traços do arquiteto escocês Robert Prentice. Sua parte central só tem continuidade para o lado direito, sendo que de acordo com projeto inicial, ficou faltando o lado esquerdo. O projeto foi desenhado pelo arquiteto escocês Robert Prentice, que projetou também o Palácio das Cidades, antiga sede da prefeitura, em Botafogo.
Jorge Candido de Souza, que trabalha em uma barraquinha que vende balas e refrigerante em frente à estação a mais de 25 anos, disse que desde que ele está lá, o prédio já se encontra nesse estado: “Estou aqui a 25 anos e sempre esteve assim”. Perguntado sobre as pichações, Jorge disse que a segurança local inibiu os pichadores, mas que não houve continuidade e limpeza da área e que como no nosso país nada funciona, acha difícil que haja uma reforma na Estação.

Em 2012 a Supervia – responsável pelo transporte ferroviário no Estado do Rio –elaborou um projeto de modernização da estação, orçado em R$10 milhões, que consistiria em restauro e limpeza das fachadas, nova iluminação para as áreas interna e externa do prédio e a implantação de sistema de detecção de incêndio.
– Entre os desafios assumidos pela nova gestão da Supervia está o comprometimento com o patrimônio do Rio de Janeiro. Investiremos em melhorias em todas as nossas estações até 2020, mas a Central do Brasil e a Barão de Mauá mereceram projetos diferenciados. Queremos deixar esse legado aos nossos passageiros – afirmou, Carlos José Cunha, presidente da Supervia.
Em entrevista ao jornal O Globo em fevereiro de 2015, o então secretário de transportes Carlos Roberto Osório afirmou que parte da área é da União e parte é do Estado, que ficou responsável por tudo que era operacional na ferrovia: “A parte do Estado foi cedida à Supervia durante a concessão do sistema metropolitano ferroviário. O Estado entende que é preciso fazer um projeto conjunto para revitalização da Leopoldina“.
Entrevistamos Fernando Abelha, aposentado ferroviário, professor e conselheiro da Associação dos Aposentados da Rede Ferroviária Federal sobre a condição atual da estação Barão de Mauá
Blog: O senhor foi ferroviário? E como foi sua trajetória na rede ferroviária?
Fernando: Sim. Embora aposentado da Rede Ferroviária Federal, eu me sinto, ainda, ferroviário. Ser ferroviário é um estado de espírito.
Ingressei na antiga Estrada de Ferro Leopoldina pelos idos de 1954, ainda no final da administração dos ingleses. Esta estação tinha movimento pelas 24 horas do dia. Eram trens de subúrbio que atendiam a Duque de Caxias e ao fundo da Baia de Guanabara.Do interior chegavam trens expressos, rápidos, noturnos, automotrizes que serviam à Zona da Mata de Minas Gerais, o Espírito Santo, Nova Friburgo e Petrópolis, além de todo o Norte Fluminense. À época as composições eram tracionadas por locomotivas vaporentas – Maria Fumaça – e a partir da penúltima década do século passado passaram para locomotiva diesel elétrica e, posteriormente, o transporte ferroviário urbano do subúrbio da Leopoldina, à semelhança da Estrada de Fero Central do Brasil, foi eletrificado. Hoje, aos 80 anos, ainda trabalho na chefia do gabinete da Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social-REFER. O Fundo de Pensão foi o que sobrou aos ferroviários após a impensada e inoportuna liquidação da RFFSA. Não consigo entender como cometeram tamanho desatino com pesados prejuízos ao erário público e aos trabalhadores ferroviários. O pior é que ninguém responde por tamanho crime de lesa à pátria.
B: O que o senhor acha da atual situação da Estação Barão de Mauá, em estado de abandono?
F: É um odioso e verdadeiro verdadeiro caos para a nossa cultura. Infelizmente, o Brasil não se preocupa com a sua memória. O pior é que a Supervia e a Odebrecht se comprometeram em restaurar a estação como contra partida da ocupação de espaço no seu contorno pela Odebrecht para construir a fábrica de aduelas destinadas à linha 4 do metrô. Embora contratada nada foi feito por esta empreiteira que, apenas, usufruiu do espaço que lhe fora concedido sem nada dar ao governo e hoje está envolvida até a raiz dos cabelos na operação Lava Jato.
B: Quais os projetos futuros para restauração e revitalização da Estação da Leopoldina?
F: Os órgãos de classe ferroviários conseguiram que a estação fosse tombada pelo IPHAN. Existe projeto, desenvolvido por uma universidade do Estado do Paraná, para transformar Barão de Mauá em um museu ferroviário nacional. Assim todas as peças ferroviárias, literatura, locomotivas entre as quais a chamada Baronesa, a primeira que circulou no Brasil; o carro do imperador, os carros de passageiros que transportavam o presidente Getúlio Vargas em suas viagens pelo interior. Enfim, tudo o mais que envolva o fantástico e inesquecível trem de ferro. Naquela estação existem ainda a o Serviço Social das Estradas de Ferro, Associação dos Engenheiros da Estrada de Ferro Leopoldina e o Sindicato da Polícia Ferroviária Federal. Esperamos que as autoridades federais, estaduais e municipais levem à frente este projeto do Museu Ferroviário.

