Por Genésio Pereira dos Santos, ferroviário e jornalista
O jornal O Globo, de 23.07.16, na matéria de fundo Opinião aborda que a “Recuperação dos trens é deixada de lado na Olimpíada”, colocando que melhorias no ramal de Deodoro, onde há estações perto dos locais de competição, beneficiariam os 330 mil usuários por dia e atrairiam mais passageiros. O tema deveria ser em nível nacional, considerando-se que o problema viário não é localizado numa cidade, ele se estende por todo o País e está focado somente por causa do grande evento.
Um plus de associações representativas da classe ferroviária, há anos e anos, vem abrindo os olhos míopes das autoridades brasileiras sobre a necessidade de investir-se na recuperação, em nível de Brasil. Quanto à revitalização dos trechos do modo (modal) ferroviário, no que se refere a volta do Brasil aos trilhos, com a circulação de trens de passageiros, até hoje, não houve o empenho governamental, no sentido da mobilidade urbana efetiva.
Tem-se que partir, imediatamente, do problema localizado (Grande Rio) da regionalidade, para algo mais global, mastodôntico, pois, se assim não o for, não se chegará à mobilidade urbana, a mais reclamada e esperada neste País-continente.
A matéria registra que a SuperVia gastou 250 milhões com a modernização de seis estações para os jogos no curto período de sua realização. Convenhamos que é muita grana.
A recuperação da grande malha ferroviária tem que ter custo-benefício mais vantajoso, não só em termos financeiros sim, mas, no caso do sistema viário nacional, esse custo se estende, necessariamente, aos aspectos sociais, no primeiro momento, que vêm antes da questão econômica e financeira.
Cita-se que perto dos 700 mil passageiros de todo o sistema viário regional, com a malha de 270km, 102 estações e o quantitativo em 12 municípios, num universo de 9 milhões de habitantes,a rigor, salvo melhor juízo, parece pouco representativo.
A extinta Rede Ferroviária Federal S/A- RFFSA já contou com uma malha de mais de 35 mil quilômetros. Hoje, tem-se a modesta extensão da Malha de ferrovias de 28.190 mil km (apenas 15 mil km estão em uso efetivo). O restante está completamente abandonado, infelizmente, número muito aquém, em se tratando de um País-continente, frise-se, justificando-se sobremaneira a conclusão de construções de alguns trechos e abertura de outros. Quantos serão os municípios a serem beneficiados no contexto, em nível de Brasil?
O contingente de potenciais passageiros nacionalmente, não que terá o trem perto de suas casas, devido à precariedade do serviço do modo rodoviário, oferecendo, em muitas áreas poucas opções, relativamente à mobilidade urbana nas cidades, será beneficiado substancialmente.
Apenas a recuperação localizada regional não basta. É preciso que seja implementada uma política agressiva viária completa.
Os trechos desativados e abandonados pelos diversos governos, a partir da desestatização da RFFSA, nesses 26 anos, são abomináveis sob todos os aspectos, para um País carente de transportes coletivos.
O que o jornal ressalta é que as melhorias no ramal de Deodoro, no Rio, foram oportunas, em face do legado a ser deixado para os cariocas suburbanos, num primeiro momento.
Entretanto, o que se observa é que a grande maioria dos habitantes do Grande Rio não terá o benefício anunciado pela mídia durante um razoável tempo, antes da realização das Olimpíadas, quando o mundo estará, eletronicamente, aqui no Rio e em algumas capitais.
Investimentos têm que ser aplicados, a fim de que se efetive a recuperação dos trechos construídos e outros a construir, para que os trens voltem a circular e saiamos deste arcaísmo viário, acanhado, injustificável, porque simplesmente somos 8 milhões e 500 mil metros quadrados de superfície. É preciso que as autoridades driblem o “não ao modo ferroviário”; esta é a grande jogada numa “olimpíada da volta dos trens, que dura há anos, aqui no Brasil. A tocha da revitalização ainda não foi acesa, como já deveria ter acontecido neste País.
O Brasil precisa de ferrovias como o sangue de oxigênio, e a tarefa que pesa (verga) por sobre os ombros do presidente interino, Michel Temer, é construir ferrovias no Brasil, para que tenhamos a necessária mobilidade urbana. Repito… E estamos conversados.
